Na biblioteca da rua Direita
Otto lia muito!
Lia as aventuras dos marinheiros. Sabia da migração dos animais, dos monstros sob os cascos dos navios, da solidão entre as ondas, dos mistérios do mar.
Tinha medo da ilha dos gigantes, sonhava com as terras geladas do fim do mundo, ficava mudo com o rosnar dos dragões.
Descobriu que no escuro das cavernas os piratas guardavam joias e segredos.
Lia sobre a rota dos pássaros, aprendeu sobre o silêncio das montanhas, do domínio dos ventos, da direção das nuvens e do amadurecimento dos frutos.
De bruxas, fadas e gnomos, só teve conhecimento pelos livros.
Tudo o que ele queria saber encontrava-se ali, naquelas páginas daquele monte de livros, impressos com vinte e seis letrinhas embaralhadas.
Bastava abrir e ler os livros, e logo as
aventuras, as histórias, os ensinamentos e a poesia espertavam.
Certo dia, Otto pegou na estante um livro pequeno, de capa verde e com muitas estrofes.
Leu alguns versos e ficou imóvel, encantado, com os olhos perdidos no espaço. Releu e gritou:
— Mas isso é lindo!
E repetiu a leitura por várias vezes. Por fim, já sabia
os versos de cor.
Fechou o livro e os olhos, e recitou em voz
alta para melhor sentir a poesia nos ouvidos e no coração.
Mas a vida tem caprichos e, nesse momento, Anna ia
passando por ali. Foi o tempo necessário para que ela ouvisse o final:
você ao meu lado
—
Hã? É comigo?... — disse ela.
O tempo passou...
Hoje Otto e Anna continuam frequentando a
antiga biblioteca, no antigo casarão da Rua Direita, mas na seção dos livros
infantis.
Walter Lara Na biblioteca da Rua Direita Belo Horizonte, Abacatte, 2016
👍
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